segunda-feira, 31 de maio de 2010

ADVOGADO: SAIBA COMO USAR

por Elder de Faria Braga

A verdade é que nós advogados somos seres incompreendidos… Basta uma rápida pesquisa na internet para que se encontrem milhares de piadas sobre advogados, quase todas elas mostrando como somos cruéis, desalmados, materialistas, ou até mesmo desonestos…

Autor: Frechet - GNU Free Documentation License
Apesar de Cristo apontar o Espírito Santo como “outro advogado” e da tradição católica chamar sua mãe de advogada (o problema ético de um Juiz com tantos advogados na família não será tratado aqui), é certo que existem advogados que não são modelos de virtude. Infelizmente, há maçãs podres em qualquer barril.

Mas as piadas não vêm desses poucos profissionais desonrados. Esse estigma vem da natureza de nosso profissão, que nos obriga a agir de modo muito diferente do que seria o normal para outros profissionais. Quem procura um advogado, normalmente não está feliz e buscando um sonho. Está preocupado e com seus interesses mais importantes feridos, ou ameaçados. Neste ponto, somos parecidos com os médicos e muito diferentes dos arquitetos. O problema é que, ao contrário dos profissionais da saúde,  normalmente, não oferecemos cura, mas sim um mergulho no mundo da violência ritualizada, ou seja, para seguir nas imagens bíblicas: choro e ranger de dentes…

Assim, se o caso é um processo, é preciso aconselhar o cliente sobre o que fazer para ganhar (ou não perder). Isso implica em fazê-lo enfrentar um duríssimo interrogatório, para cobrir todas as possibilidades de ataque da outra parte, ou mesmo falar claramente que sua posição é insustentável, o que nunca é agradável.

Pior ainda, se o que nos pedem é uma opinião, temos a obrigação do pessimismo.  Qualquer advogado digno deste nome, analisará a questão profundamente, procurando tudo o que pode dar errado, bem como todas as fraquezas da outra parte que possam ser exploradas. Nenhuma dessas atitudes é simpática…

Para agravar nosso problema de imagem, se esse advogado tiver um mínimo de juízo, guardará uma cópia desse seu parecer, pois quando algo der errado, poderá dizer: Eu avisei! Pois caso não tenha avisado, será responsabilizado.

Resumindo, o advogado é pago, entre outras coisas, para pensar no impensável, pedir ao Estado que use da violência da lei e duvidar de tudo e questionar tudo (especialmente o cliente)… Não é certamente uma fórmula de simpatia.

Assim, o importante na relação do executivo com o advogado é que se entenda que todo esse pessimismo, todo esse cuidado, esse olhar seco e cínico sobre o mundo estão ali para ajudá-lo. Deve ser pedido ao advogado não apenas que aponte os riscos e problemas, mas também que opine sobre sua gravidade e probabilidade. Não é qualquer advogado que é capaz disso, pois para isso é preciso experiência, estudo e coragem profissional.

Ou seja, para que o advogado seja bem utilizado,  é preciso que seu papel seja entendido.  Ele tem a formação necessária para prever grandes problemas e mais, quais as suas conseqüências práticas. Uma vez que isso seja entendido, o executivo passa a poder cobrar do advogado o que deve ser a sua maior contribuição para a empresa: Uma visão jurídica sobre os riscos e possibilidades do negócio. Se usado desta forma,  o jurídico passa a ser uma peça importante no estabelecimento de estratégias empresariais, fornecendo informações decisivas para orientar o executivo na tomada de decisões, alertando para possibilidades de lucro e muitas vezes prevenindo problemas que poderiam custar caro.

Extraído do Portal Exame

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