quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

A ultima entrevista de Gagaça Lopes

essa entrevista foi realizada em 08 de abril de 2007


Maria das Graças Lopes é uma expansiva taurina nascida em 9 de maio de 1950. Mossoroense com orgulho, é casada com um médico pediatra e mãe de quatro filhos.

Dentista por formação, Graça Lopes acredita que o tesão é fundamental em qualquer área da vida, principalmente na profissional.

Conhecida por muitos como "Gagaça", ela é uma apaixonada por música e arte de uma forma geral.

Nesta entrevista, ela nos fala sobre suas habilidades manuais, seu amor por figuras sacras, a militância política, sua religiosidade e o povo de Mossoró.

Por Ana Paula Cadengue


anacadengue@omossoroense.com.br

O MOSSOROENSE - Dentista há quantos anos?

GRAÇA LOPES - Minha amiga, são 32 anos de jornada e caminhada com muita paixão e até hoje o mesmo tesão do início... Continuo assim empolgada e entusiasmada. Adoro vir para o meu consultório e não tenho isso como sacrifício e sim como uma coisa salutar, saborosa. Odontologia pra mim é uma coisa que me dá muito prazer. Eu digo que pra você ser dentista não basta só gostar, tem que ter tesão, porque odontologia é uma arte, é um trabalho puramente artesanal. É prazeroso porque você lida com uma coisa muito importante do paciente que é o sorriso.

OM - É da odontologia que veio esse seu prazer pelo artesanato e outras artes também?

GL - Veja bem. A minha família toda é voltada para a arte. A minha mãe é uma artista de primeira grandeza... É curiosa, trabalhou muito com decoração e tem muita habilidade com trabalhos manuais. Lá em casa todos nós desenvolvemos um pouco essa atividade artesanal. O Carlos, meu irmão, trabalha com escultura. Todos têm um certo jeito pra coisa.

Eu sempre gostei de trabalhar com coisas pequenas e desenvolver alguma habilidade. Eu gosto, desde arrumar uma gaveta com arte, um armário com arte. Eu não me considero uma artista. Eu sou uma curiosa que gosta da arte.

OM - Mas hoje está com uma exposição...

GL - Você sabe que nessa questão da exposição, o grande culpado é Ney Morais. Ele é um grande artista e resolveu me envolver nesta empreitada, e eu que passo o dia aqui nessa labuta e aproveito muito bem as minhas horas fora do consultório... Bom, eu sempre digo que você tem que desenvolver alguma coisa e sempre aprender alguma coisa. Eu não gosto de tornar a minha vida uma rotina. Até o meu caminho quando venho de casa eu mudo para não ficar igual.

OM - Você faz camisetas e que outros produtos?

GL - Em sempre gostei de artesanato e atividades que desenvolvessem a habilidade manual. Num certo momento da minha vida, eu comecei a fazer algumas camisas só com imagens sacras porque foi um momento que eu precisei muito da vida espiritual e eu fui correspondida. Aí eu elaboro as camisas, arrumo e tiro aquilo que eu gastei com as camisas e o que eu apuro eu destino a obras de caridade, repassando em forma de alimentos ou dinheiro.

OM - Há quanto tempo você faz isso?

GL - Já tem um ano e meio quando eu tive de passar por uma cirurgia muito difícil e precisava da ajuda divina, espiritual que eu confiava bastante.

Com essa exposição eu tive a idéia de fazer outras coisas. Eu gosto muito de imagens e símbolos. Então eu comecei a desenvolver mini santuários, colares onde eu ia inserir imagens sacras, coisas desse tipo. Nessa exposição eu estou levando cerca de 40 objetos porque eu não tenho tempo de produzir.

OM - Algum santo de predileção?

GL - Não. Gosto de todos os santos. Eu tinha muitos duendes que ia ganhando, mas as pessoas reclamavam que eu misturava duendes com anjo e com santos, eu respondia: interessante, eles nunca brigaram. Eu gosto da coisa espiritual, embora seja católica, apostólica romana assumida e feliz com minha religião eu respeito todas as outras. Tudo que é feito pelos homens tem falha.

OM - A gente está terminando a Quaresma. Penitenciou-se de alguma coisa?

GL - Sim. Principalmente no lado do crescimento pessoal. Por exemplo: se alguma coisa me desagradou eu teria que responder a altura, eu me penitencio evitando fazer qualquer comentário negativo sobre as pessoas, dando desconto nas atitudes negativas dessas pessoas.

OM - Esta entrevista vai ser publicada no domingo de Páscoa. O que é Páscoa pra você?

GL - É isso. Páscoa é no sentido de amor, de desprendimento. A minha ressurreição é eu estar a serviço do meu irmão, estar compreendendo meu irmão para tentar melhorar a mim mesmo um pouco. A gente tem tanto que crescer espiritualmente, como pessoa e como seres humanos. Páscoa pra mim é você poder oferecer um pouco do sentimento, da minha compreensão a serviço do outro.

OM - Você faz algum trabalho voluntário?

GL - Não faço e acho que é uma falha muito grande em não fazer. No fundo, eu faço de uma forma indireta. Eu sempre chego junto de quem precisa, de uma forma ou de outra, até mesmo uma ajuda financeira que é muito importante para alguém que está precisando naquele momento. Estou a serviço como voluntário de algumas instituições, mas me penitencio por isso; não estou lá fisicamente, contribuindo.

OM - E enquanto profissional da área de saúde?

GL - É uma área muito carente. Eu digo que o meu consultório é um espaço para as pessoas que necessitam. Há 32 anos eu trabalho de forma voluntária no meu consultório. Eu tenho parceria com as irmãs do Lar da Criança Pobre e sempre que preciso eu estou à disposição delas. Dentro do que é possível eu estou a serviço dessas pessoas. Aqui no meu consultório ou no meu serviço público no IPE que hoje é o Centro Clínico da Polícia Militar.

OM - Onde entra a música na sua vida?

GL - (Risos) Em todas as horas. Eu sou movida à música e não sei viver sem ela. Eu não sou ligada em televisão, mas assisto os programas musicais. Eu não me ligo em novela e outras baboseiras que têm por aí. Eu tenho até assim uma certa aversão à Rede Globo porque eu não quero me prostituir com algumas coisas que eu não concordo. Eu sou muito seletiva com música também. Quando a coisa é boa, me chama a atenção e não fere os meus ouvidos, eu gosto.

OM - O que toca no seu aparelho de som?

GL - No meu aparelho de som toca MPB e tenho uma variedade grande, principalmente se for de boa qualidade. Se eu pudesse ouvir Chico Buarque 24 horas, eu ouviria, mas como tem outras pessoas de qualidade eu tenho que respeitar.

OM - Costuma freqüentar shows?

GL - Sempre. Eu sou uma pessoa muito simples, mas eu me permito me dar um presente de aniversário no dia 24 de abril em assistir Chico Buarque em Fortaleza no camarote, porque eu mereço. Ele me dá felicidade. Ele é divino sempre.

OM - Você também canta. Eu já te vi em cima de um palco...

GL - Nós tínhamos até o mês passado um grupo de dentistas e resolvemos dar um tempo em virtude das dificuldades de nos reunirmos. Houve dificuldade também com o horário do professor e a gente resolveu dar um tempo para se reestruturar, mas voltaremos brevemente. O grupo é o Bocart, formado só por dentistas.

OM - Você também é conhecida pela sua militância política...

GL - Eu já nasci política. Eu sempre conto assim para os meus filhos. Quando Kennedy morreu eu era uma criança e estudava interna no colégio das freiras e todo mundo lamentou muito essa morte. Eu confesso que já o considerava um presidente populista e quando ele assinou o embargo a Cuba, eu já comecei a odiá-lo, já comecei a ter raiva. Eu sou fã de carteirinha de Fidel e hoje em tenho uma imagem dele no meu quarto. Todos os dias eu olho pra ele. Antes de você me perguntar eu respondo; o PT vai cada vez melhor. Eu digo a você que não adianta eu estar bem se ao meu redor uma grande maioria não está bem. Eu entendo que todo mundo tem que estar bem.

OM - O motivo de um sorriso em Mossoró?

GL - O povo de Mossoró. O mossoroense é tão bacana, acredita no futuro, em coisas boas e por isso eu bato palmas para o mossoroense e o brasileiro de um modo geral.

OM - Quem pode lhe chamar de "Gagaça"?

GL - (Em gargalhadas) Todo mundo...

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