O uso de celulares dentro de agências bancárias pode ser proibido no Estado de São Paulo ainda este ano. O veto ao uso dos aparelhos – e de outros dispositivos de comunicação eletrônica – no interior de bancos está previsto em projeto de lei que tramita na Assembleia Legislativa. Lei semelhante já foi adotada em várias cidades, como Campinas, Franca e Salvador.
O objetivo, segundo o autor do texto, deputado Fernando Capez (PSDB), é trazer mais segurança aos clientes: a falta de comunicação dificultaria a ação de ladrões especializados na chamada “saidinha” – quando os criminosos seguem clientes após saírem dos bancos com grandes quantias e os assaltam na rua. A proposta prevê ainda que shoppings e hipermercados terão de instalar biombos separando os caixas eletrônicos dos demais ambientes.
A medida divide os clientes. “Eu acho válido, se for para evitar assaltos. Quem não pode ficar meia hora sem falar no celular?”, defende o taxista Luiz de Sá, de 56 anos. “Seria melhor se os bancos instalassem biombos para que o pessoal na fila não visse quem está no caixa”, diz a secretária Rosinalva Aguiar Gomez, de 32.
Quem usa o celular como ferramenta de trabalho prevê problemas. “Hoje em dia é possível resolver quase tudo pela internet. Então, só vou ao banco para resolver problemas”, relata a consultora de empresas Aline Milani, de 36 anos. “E se, quando estiver na agência, precisar resolver alguma outra coisa por telefone, vou pedir o aparelho da agência?”, questiona. A consultora não acredita que a medida evitará assaltos: “Tenho mais pânico de entrar no banco quando tem um carro-forte estacionado na porta do que em qualquer outra circunstância”.
A opinião é diferente quando a pessoa já foi vítima da “saidinha”, como um empresário de 63 anos ouvido pelo JT. Ele, que pediu para não ter o nome divulgado, teve roubados R$ 6 mil logo após deixar o banco (leia texto nesta página). “É melhor desligar os celulares do que ver duas pistolas prateadas apontadas para você”, diz. A Polícia Civil não tem dados específicos sobre vítimas de “saidinha” de banco. Os casos são registrados como roubos comuns.
A ginecologista e obstetra Carolina Carvalho Amborgini não desgruda do celular. O principal motivo são gestantes em trabalho de parto. Contudo, não acredita que terá problemas em desligar o aparelho. “Oriento minhas pacientes a irem para o hospital e deixarem recado se não conseguirem falar logo na primeira ligação”, conta. Para ela, a questão principal é a segurança. “Se a medida trouxer mais tranquilidade, será ótimo.”
Especialistas em segurança não acreditam que a lei, se aprovada, “pegue”. Avaliam que, apesar de a medida ser boa, biombos de isolamento na boca do caixa e nos caixas eletrônicos teriam melhor resultado. “É mais simples e mais efetivo”, diz Nilton Migdal, consultor e especialista em segurança. Com os biombos, opina ele, a transação bancária de qualquer natureza ficaria, somente, entre o cliente e o banco. “Pode ser colocada uma câmera sobre o funcionário – se já não existir – que acompanhe todos os seus atos ao longo do dia”, afirma.
Também especialista na área, Felipe Gonçalves questiona como o cliente será abordado se chegar falando ao celular. “Ele terá de desligar, será impedido de entrar? São questões difíceis”, aponta. A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e a Secretaria de Segurança Pública não comentaram o projeto. Dizem que não discutem propostas que ainda não foram votadas pelos parlamentares.
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